terça-feira, 27 de outubro de 2015

A maior barreira na adoção da tecnologia são as pessoas



Os elevadores automatizados, quando surgiram, provocaram reações no mercado de trabalho porque os ascensoristas perderiam os seus empregos. Hoje, raramente nos deparamos com cabineiros, forma como os ascensoristas são chamados em algumas cidades. No Rio de Janeiro, durante muitos anos, existiu uma lei que obrigava a existência de ascensoristas nos prédios comerciais, independentemente do tipo do elevador. A pressão da classe trabalhadora e dos sindicatos foi muito grande. Eu confesso que não tenho certeza se essa lei ainda está em vigor, mas sei que esse tema foi muito tempo discutido dentro da assembleia legislativa.

Quando os primeiros automóveis apareceram, os fabricantes não consideraram que os próprios donos iriam dirigi-los. Os primeiros carros a motor tinham a cara das velhas carruagens puxadas por animais e o assento do motorista era desenhado num lugar alto assemelhado ao espaço antes destinado ao cocheiro. Ninguém admitiu que as novas carruagens a motor poderiam ser guiadas pelos próprios proprietários, quase sempre pessoas abastadas. Demorou vários anos para que isso acontecesse.

Nos dias atuais, a polêmica do Uber continua sendo tema de conversas e debates acalorados. Pessoas comuns, que têm carros pretos, se sentem ameaçadas e assustadas com a possibilidade de serem atacadas nas ruas. Em New York o número de carros do Uber já supera o de carros amarelos dos táxis. Em São Paulo e no Rio, o Uber está proibido pelas autoridades, porém o número de usuários cresce vigorosamente dia a dia.

Os três exemplos acima mostram momentos distintos da história da sociedade. Em todos eles, a tecnologia impôs novos hábitos, novos modelos de negócio, novas conveniências e impactos diretos no mercado de trabalho. As vezes a adaptação é lenta, como no caso dos automóveis versus carruagens. Outras vezes a sociedade reage decidindo por alternativas esdrúxulas, como no caso dos elevadores no Rio. Por fim, existem casos em que a resistência sai do fórum das discussões e entra na reação violenta como nos táxis versus Uber.

O fato, inquestionável, é que a tecnologia impõe mudanças em nossas vidas em todas as dimensões. Todos os dias surgem novidades e nós, seres humanos, em favor da conveniência e do bem estar, as adotamos. O interessante é que quase sempre a adoção dessas tecnologias representa impactos diretos em parte da sociedade, para o bem e para o mal, dependendo do ponto de vista.

O transporte aéreo é um belo exemplo da evolução acelerada decorrente da tecnologia. A simplificação dos processos e a introdução de novas tecnologias vêm transferindo para as máquinas, e para os próprios clientes, a responsabilidade da realização dos procedimentos de voo. Atualmente nós, passageiros, já imprimimos em casa os nossos bilhetes aéreos e fazemos o checkin remotamente através de nossos dispositivos móveis, como smartphones. No entanto, o que continuamos a fazer do mesmo jeito de sempre é o checkin de nossas malas, mas parece que isto está prestes a mudar. Já surgem empresas aéreas onde o próprio passageiro etiquetará a sua bagagem, imprimindo as etiquetas em casa e acompanhando a trajetória de suas malas por meio de seu smartphone. No fim de 2015, viajantes na Europa provavelmente estarão usando o modelo que deverá ser o futuro da passagem aérea: etiquetas permanentes que poderão ser atualizadas digitalmente caso os planos de viagem mudem.

Tudo isso parece muito legal, mas tais mudanças em relação às bagagens enfrentam desafios, como a reação dos sindicatos, normas de segurança e viajantes que preferem um atendimento humano no despacho da bagagem. No meu ponto de vista, confesso que eu não tenho nenhuma satisfação pessoal em entregar as malas para um funcionário de uma companhia aérea, porém compreendo que podem ocorrer casos especiais em que seja mais fácil lidar com um atendente humano do que um atendente máquina.

Quando o automóvel surgiu, os primeiros proprietários reagiram dizendo que a tarefa de dirigir um automotor era uma tarefa secundária, uma espécie de subatividade, além de não se sentirem capacitados para tal função. Na época, os sindicatos e as autoridades públicas se posicionaram afirmando que permitir pessoas comuns guiarem seus automóveis seria um risco à segurança nas ruas. A indústria de carruagens puxadas por animais na época, que chegou a produzir mais de 50 mil carruagens por ano, de repente viu o seu negócio sob risco e afirmou que milhares de trabalhadores iriam perder seus empregos. Na época do surgimento dos elevadores automatizados, o pesadelo era as pessoas ficarem presas nos cubículos sem a quem recorrer em caso de necessidade de ajuda. Nos dois casos citados, a experiência mostrou que, inicialmente, as próprias pessoas impuseram barreiras à mudança.

Enfim, quando falamos das transformações que a tecnologia impõe à sociedade, a maior barreira nem sempre está na própria tecnologia, mas provavelmente nos seres humanos, em seus hábitos, conveniências, crenças e até na dificuldade de sonhar. Os empreendedores e visionários são diferentes, eles sonham.  Há exatos 100 anos atrás, em 1915, Alexander Graham Bell realizou a primeira ligação telefônica transcontinental americana, de New York para seu assistente Thomas Augustus Watson, em San Francisco. Foi um acontecimento e tanto. Eles se falaram por telefone numa distância impressionante para época. Ninguém acreditou que aquele projeto seria viável a longo prazo e que ele poderia ser o primeiro passo para conectar todas as grandes cidades do país, afinal a experiência de instalar um cabo de cobre conectando as duas cidades no extremo do país apresentou um custo enorme. Ou seja, o modelo não se pagava. Naquela época, uma conversa de longa distância se dava apenas por cartas. Era a época dos correios e telégrafos. O telefone foi o Uber dos correios. Parece que, independentemente do tempo, toda empresa tem o seu Uber a espreita.




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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Bem-vindo ao futuro, Marty McFly


Existem filmes que eu já vi dezenas de vezes, e por incrível que pareça eu continuo assistindo alguns deles. O filme termina e eu sinto uma vontade enorme de ver de novo, tem algo mágico que eu não consigo dizer o que é. A trilogia "De Volta para o Futuro" faz parte dessa magia.

Lembro que ao ver "De Volta para o Futuro 2" no cinema, no natal de 1989, eu memorizei a data marcada no DeLorean: 21 de outubro de 2015. Esta foi a data que Doc Brown marcou na máquina do tempo para levar Marty McFly ao futuro. E o futuro chegou, hoje é o dia! Bem-vindo Marty McFly. Quem sabe não nos esbarramos em alguma esquina?

Também lembro de estar sentado na poltrona do cinema e pensar comigo: "estarei vivo em 2015 e vou querer ver o quanto disso será realidade". Eu nunca imaginei que os carros voadores e os skates flutuantes do filme pudessem existir de verdade, mas quem sabe o aparecimento de uma fonte de energia como o Mr. Fusion fosse possível?

"De Volta para o Futuro 2" me encantou porque mostrou um futuro colorido, vibrante e divertido, até bobo em alguns aspectos, mas muito diferente das previsões sombrias, de mundos escuros e perversos, como em Blade Runner e outros filmes apocalípticos. Eu sempre sonhei em viajar no tempo, explorar o futuro, e o filme ajudou a criar uma imagem de futuro na minha cabeça. Acho que toda criança já passou por isso. Isso explica a minha obsessão por filmes de viagem no tempo como "Em algum lugar do passado" e "Planeta dos Macacos".

Como qualquer filme contando uma história no futuro, a gente se pega olhando as previsões e fazendo exercícios de futurologia. O filme acerta algumas previsões como as TVs de tela plana e as ligações telefônicas com vídeo, mas passa longe ao não imaginar a internet e as mídias sociais como temos hoje. Uma curiosidade é que no filme os aparelhos de fax continuam funcionando e aparecem bem ativos, inclusive no meio da rua, como uma espécie de post-office do futuro.

O filme é icônico, ainda muito popular e continua interessante nos dias de hoje. Vou rever mais uma vez toda a trilogia. Aliás, a caixa com os 3 DVDs da trilogia está muito bem guardada. De tudo que se passa e é mostrado no filme, só tem uma uma coisa que nunca entendi: como pode os autores do filme imaginarem que no futuro a moda seria gravata dupla? Que coisa, hein?




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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Por que trabalhamos?


O artigo "É possível ser feliz, sem ser feliz no trabalho?", do Tracanella, faz uma reflexão perturbadora. Gastamos um terço da vida trabalhando, um terço dormindo e um terço vivendo. Notem que eu separo "viver" de "trabalhar". É uma equação simples, de conclusões óbvias, mas ela carrega alguns segredos.

Assumindo que fisiologicamente é difícil diminuirmos o tempo de sono, mesmo considerando que eu tenho amigos que dormem magicamente apenas quatro horas por dia, a estratégia para a nossa felicidade passa por fazer o "tempo vivendo" invadir o "tempo trabalhando". Ou, analisando de outra forma, precisamos diminuir o número de horas diárias de trabalho para sobrar mais tempo para viver. Isso parece impossível assumindo que na vida real o trabalho nos consome cada vez mais tempo e invade a nossa vida cotidiana.

Se não dá para diminuirmos as horas de trabalho por dia, então o caminho é transformarmos o nosso trabalho em algo que realmente faça sentido para nossa realização pessoal e profissional. Não podemos simplesmente encarar o "tempo trabalhando" como trabalho. É exatamente neste ponto que entra a argumentação do Tracanella: não dá para ser feliz sem ser feliz no trabalho. Invertendo as coisas, não dá para trabalhar em algo que não te faça feliz.

Barry Schwartz, psicólogo e palestrante do TED, foi ainda mais fundo nessa questão e lançou a pergunta: por que trabalhamos? A resposta parece óbvia: porque precisamos de dinheiro para viver e pagar as nossas contas. Essa é a resposta evidente e racional, mas no fundo não é a resposta que esperamos. Existe algo mais profundo e filosófico por trás da necessidade de trabalharmos.

Ele faz mais perguntas: por que o trabalho representa um sacrifício sem fim para a maioria esmagadora das pessoas no planeta? Por que o trabalho não pode ser algo motivador que nos faça levantar felizes da cama todos os dias? Por que a sociedade aceita que a maioria das pessoas faça trabalhos monótonos, sem sentido e sufocantes? Por que é que ao longo do último século nós não conseguimos fazer com que as satisfações não materiais no trabalho se tornassem mais essenciais?

Não vou descrever aqui as reflexões de Mr. Schwartz. Veja você mesmo em seu excelente vídeo no TED de apenas 8 minutos (com legendas em português) ou acesse o transcript (em português). Ele faz as perguntas, dá as respostas e elas não são nada agradáveis. O fato evidente é que a própria sociedade criou a armadilha do trabalho em que nos encontramos hoje. Parece que estamos presos a um modelo que não conseguimos nos libertar. Se não existe uma perspectiva de mudança vinda da sociedade, então a mudança na forma como encaramos o trabalho tem que vir de nós mesmos, de dentro da gente. A responsabilidade torna-se individual, introspectiva, muito particular e sem fórmula mágica.

Parte da resposta vem das perguntas e da reflexão do Tracanella. Quanto o nosso trabalho nos ajuda a sermos mais felizes? E quanto ajudamos nosso trabalho a também ser? Só conseguiremos ser felizes no trabalho se, de alguma forma, ele nos prover realizações.

A sua relação com o trabalho tem múltiplas dimensões: a carreira que você escolheu, o seu emprego, a empresa onde trabalha, os seus colegas, as suas aspirações profissionais, a sua performance e muitas outras dimensões. Conheço muitos amigos que reclamam do trabalho, quase sempre delegando a questão a fatores externos, mas o principal responsável pela sua felicidade no trabalho é você mesmo, é consequência de suas escolhas e depende da sua capacidade de ver a parte cheia do copo todos os dias.

Eu tenho uma visão pessoal a respeito disso. O mais importante para mim é trabalhar em um lugar ou com algo que esteja conectado a algum propósito que não me deixa indiferente. Sabe aquela sensação de estar fazendo ou construindo algo especial, que impacta alguém ou alguma coisa? É disso que estou falando, e é isso que me alimenta diariamente no trabalho.

Esqueça aquela história de que o bom é trabalhar em algo que exija pouco de você, que deixe você confortável, sem pressão, sem incômodos e sem desafios. A ciência mostra exatamente o contrário. A chave para a satisfação pessoal é fazer coisas arriscadas, desconfortáveis e até mesmo desgastantes; mas desde que elas empurrem você para frente, que permitam você se desenvolver, crescer e aprender coisas novas.

O bom trabalho não é sinônimo de conforto. É até pior, ele gera ansiedade e frio na barriga, uma sensação constante de estar em uma corrida de obstáculos. Portanto é importante conhecer suas potencialidades, o que realmente motiva você, o que você tem interesse e encontrar meios de conectar tudo isso no trabalho. Tudo isso exige autoconhecimento e capacidade de reconhecer suas virtudes e fraquezas. Saber desenvolver bons relacionamentos também é fundamental. Enfim, essas são formas de ajudar que o seu trabalho seja mais feliz e revigorante. Por mais que pense diferente, o principal responsável pela felicidade no trabalho é você mesmo.


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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pai, você está postando demais!

Tempos atrás, o meu filho chegou perto e disse: "Pai, você está postando muito no Facebook. Tá exagerando". Entendi aquilo como um alerta e puxei o freio. Desde então eu tenho sido mais comedido no uso do Facebook.

Tenho preocupação com a exposição da minha família e meus amigos nas redes sociais. Nos últimos anos eu tenho assumido uma posição mais conservadora e evitado postar coisas na base do entusiasmo. Por outro lado, eu tenho amigos mais jovens que publicam com assiduidade, muitas vezes compartilhando fotos mais íntimas da família, especialmente os seus filhos.

Não me surpreende que os pais e as mães da geração Y usem as redes sociais como meio de discussão e compartilhamento de temas relacionados à educação, desenvolvimento e formação dos filhos. Esse é um meio natural para eles conversarem a respeito. A Universidade de Michigan publicou um estudo chamado "Parents on social media: Likes and dislikes of sharenting", oriundo de uma pesquisa realizada com pais de idade superior a 18 anos e com filhos de até quatro anos.

O estudo evidenciou que os pais estão usando as redes sociais como um canal de ajuda em suas dúvidas e inseguranças em relação à educação de suas crianças, além de prover algum conforto psicológico por mostrar que suas inseguranças e desconhecimento também rondam a mente de outros pais e mães. O maior risco deste comportamento é a exposição exagerada da família.

Eis os principais resultados da pesquisa:
A maioria dos pais (84% das mães, 70% dos pais) respondeu que usam regularmente as mídias sociais, como o Facebook, fóruns online e blogs. Mais da metade das mães (56%), em comparação com apenas 34% dos pais, discutem temas de saúde das crianças e da família nas mídias sociais.

Ao compartilhar conselhos aos pais nas mídias sociais, os temas mais comuns são: colocar as crianças para dormir (28%), dicas de nutrição/alimentação (26%), disciplina (19%), creche/pré-escola (17%) e problemas de comportamento (13%).

Pais classificam as mídias sociais como úteis para fazê-los sentir que eles não estão sozinhos (72%), aprendendo o que não fazer (70%), recebendo conselhos de pais mais experientes (67%), e ajudando-os a se preocuparem menos (62%). Em contrapartida, cerca de dois terços dos pais se preocupam com a possibilidade de alguém descobrir informações particulares sobre seus filhos (68%) ou compartilhar fotos de seus filhos (67%), enquanto 52% estão preocupados que quando mais velho, seu filho possa se envergonhar do que tenha sido compartilhado nas mídias sociais sobre ele.

A maioria dos pais pesquisados que usam mídias sociais (74%) afirma que conhecem outros pais que compartilham informação sobre uma criança nas redes de forma exagerada. Aí estão pais que deram informações embaraçosas sobre uma criança (56%), provendo informações pessoais que permitem identificar a localização de uma criança (51%), ou fotos inadequadas compartilhados de uma criança (27%).

Acredito que os resultados podem ser ainda mais perturbadores se a pesquisa for feita no Brasil, tendo em vista a nossa tradicional paixão pelas mídias sociais e pelo uso intensivo de smartphones por todos os membros das famílias brasileiras. Minha percepção é de que pode existir uma espécie de falta de autoavaliação dos pais em relação a tudo isto. Apontar que outros pais se expõem em demasia é mais simples e menos doloroso do que se autoavaliar e reconhecer um comportamento próprio exagerado nas redes.

Particularmente, na minha análise, a maior preocupação é com as crianças. Os pais, em geral, gostam de publicar fotos engraçadinhas de seus filhos pequeninos, fazendo caras e bocas, às vezes em situações inusitadas. Isso pode até ser divertido, mas quando as crianças se tornarem adolescentes tais fotos e comentários poderão gerar constrangimento. Ou seja, podemos estar falando de uma típica situação de bullying.

Aqui no Brasil, a questão de segurança me parece ser algo mais importante e grave do que em outros países. Quanto mais você publica dados sobre comportamento e rotina dos filhos, mais facilidade e informações você está dando para um possível crime.

Enfim, a superexposição dos pais e mães nas redes sociais já é uma realidade. As novas gerações certamente levarão esta exposição a um novo patamar. A atenção a ser dada é em relação aos filhos. Os filhos pequeninos da era atual já têm uma identidade digital criada na web, mesmo sem terem consciência disso. São os pais que criam essa identidade logo que o filho nasce, dá o primeiro sorriso, quando tira a fralda, larga a chupeta, fala papai e mamãe ou dá o primeiro passo.

Nos dias atuais, de uma forma ou de outra, tudo é registrado e publicado nas mídias sociais. O que for publicado sobre a criança em seus primeiros anos de vida é responsabilidade integral dos pais, que precisam estar conscientes e seguros sobre a imagem, personalidade e legado digital que desejam deixar para os seus filhos quando eles tiverem maturidade e responsabilidade. Podemos interpretar isso como um presente que os pais deixam para os filhos. Será que os pais estão pensando nisso?


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