quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mais sobre o Futuro dos Jornais

Existem duas entrevistas que li recentemente que trazem comentários que geram reflexão nessa questão do futuro dos jornais.

A primeira é a entrevista de Matías Molina dada para a revista Imprensa - edição de Jun/08. Infelizmente não achei a entrevista completa online, somente na mídia impressa. Veja os trechos que destaquei da entrevista:

“Imprensa – Na sua visão, qual é o Futuro do Jornais?

Matías Molina – O futuro dos jornais ninguém sabe. Agora, eu acho que a morte anunciada dos jornais é muito prematura. Segundo a Organização Mundial dos Jornais, nunca se leu tanto jornal como hoje e nunca houve tantos jornais no mundo. Aumentou a leitura dos jornais pagos bem como a dos jornais gratuitos. O que está havendo é o declínio da leitura em algumas áreas, como nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa. Já na Ásia está havendo uma procura pelo jornal. Na Índia, por exemplo, o número de leitores aumenta exponencialmente. Na América Latina, ocorreu uma queda na leitura dos jornais, mas agora está havendo uma retomada. No Brasil, leitura de jornais é muito dependente da situação econômica do país. Enquanto no hemisfério norte essa queda é lenta e contínua, no Brasil, não.”

“Imprensa – Segundo o Editor do jornal Espanhol El País, a internet vai salvar o jornalismo. O senhor concorda com essa previsão? Qual será o papel dos Blogs nesse processo?

Matías Molina - Acho que a internet sozinha não salva. Eu vejo o jornalismo futuro como uma mistura do jornal impresso e do jornal de internet. A sinergia é muito grande. Em algumas publicações, há seções exclusivas da internet que estão na edição impressa. O papel dos blogs é muito interessante, mostra uma grande variedade de opiniões. Mas os blogueiros dependem totalmente do jornal impresso, porque ele não tem a informação. O blog não tem três ou quatro correspondentes no Iraque, como tem o The New York Times, por exemplo. Como diz um ditado da imprensa inglesa. “a informação é livre, mas a notícia é cara”.

“Imprensa – Qual seria o caminho?

Matías Molina – Eu não sei qual é o caminho. Eu acho que um jornal frente à internet vai ter de mudar. Hoje, os leitores são muito mais participativos do que eram antes. Os jornais estão sentindo isso de maneira mais ou menos instintiva. As cartas dos leitores são um exemplo disso. Não se dá muita atenção a elas. Cartas, quando bem feitas e bem editadas, são o principal ponto de leitura do jornal. No The Times, de Londres, isso é muito tradicional. A seção de cartas é a mais lida do jornal, porque é muito bem editada e mostra a reação espontânea do leitor. Por um lado, o jornal tem ficado muito mais aberto à recepção do leitor, sabendo o que ele quer e o atendendo muito mais. O Globo, por exemplo, dá um grande espaço para o leitor. Isso mostra uma visão bem aberta. O jornal de qualidade deve dedicar uma parte do jornal a um número pequeno de leitores – uma elite de leitores. Isso é muito importante, porque eles encontram no jornal o que não vão encontrar em outros lugares. Tem de se acreditar na inteligência dos leitores.”

A outra entrevista que quero registrar é a de Ricardo Gandour, Diretor de Conteúdo do Grupo Estado, para a revista Negócios da Comunicação, edição 31, de jan/fev/2009. Eis aqui o link para a entrevista completa.

Quero destacar um trecho da entrevista dele:

“Revista - O que mudou para os jornais depois da chegada da internet?

Ricardo Gandour - ... O jornalista tem sido um intermediador da informação. E a internet é uma plataforma essencialmente desintermediadora. No comércio, coloca comprador e vendedor em contato, põe o poder na mão do comprador. É muito fácil fazer a analogia disso na informação. A internet também é desintermediadora, na medida em que eu posso me organizar e criar o meu próprio 'jornal' na internet. Eu passo a ser editor. Mas organizar o mundo dá muito trabalho e eu acredito que, apesar de toda a tecnologia, o ser humano não vai deixar de delegar ao jornalista a missão de organizar o mundo para ele. Esse trabalho jornalístico jamais vai desaparecer e a sociedade não vai perder de vista o valor que ele tem. Como se eu dissesse: 'vou continuar confiando que um grupo de pessoas, jornalistas, olhe o mundo por mim e me ofereça a sua leitura editada do que aconteceu. E neles eu confio'. Claro que aí tem a opção de marca - e isso independe da plataforma, se é escrita, falada, transmitida, interativa ou não.”

Os trechos das entrevistas acima fazem a gente pensar, né? Mas tenho comentários sobre elas.

É verdade o que Matías Molina disse: o blogueiro não tem três ou quatro correspondentes no Iraque como tem o The New York Times. No entanto, por outro lado, o blogueiro, muito provavelmente, vai achar e coletar informação de centenas de blogueiros residentes no Iraque. Ou seja, a informação vai até ao blogueiro. Esse é o mundo virtual. Enfim, o blogueiro não tem três ou quatro correspondentes no Iraque, ele tem centenas...

Já em relação ao que disse Ricardo Gandour, que “o ser humano não vai deixar de delegar ao jornalista a missão de organizar o mundo para ele”, eu tenho minhas dúvidas. Eu pergunto: Será que precisamos de alguém filtrando e editando as informações prá gente? Será que ter alguém filtrando as informações não inibe a discussão e a apresentação de posições contraditórias? A tal linha editorial dos jornais não é um filtro? É acho que sim. Eu não sei dizer se isso é positivo ou negativo, mas o fato é que nós delegamos para o jornal, aquele que assinamos e recebemos em casa, o poder de filtrar e editar as informações para nós. Ou seja, praticamente contratamos alguém para selecionar e analisar as notícias prá gente. Não sei não, mas tenho a impressão que o mundo vai na direção oposta, especialmente a geração mais jovem de internautas, cada vez mais queremos independência e pluralidade de opiniões.

No entanto, eu concordo que o grande desafio do mundo atual é organizar a grande quantidade de informação disponível. Nos EUA já está surgindo um conceito chamado "information agenda", mas isso é papo para outro post.

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Futuro dos Jornais - Fatos e Números

Esse é um filme com vários capítulos. Tem a versão mundo e a versão Brasil.

A versão mundo tem 10 capítulos:

Cena 1:
A venda de jornais em vários países desenvolvidos vem caindo consistentemente, com destaque para EUA. Eis os índices de queda de 2003 a 2008:
EUA: -15%
Inglaterra: -10%
Alemanha: -8%

Cena 2:
O aumento de circulação de jornais no mundo, em 2008, foi de apenas 2,5%, resultado puxado fortemente pelos emergentes, já que nos países desenvolvidos os índices são negativos.

Cena 3:
A americana News Corp, de Rupert Murdoch, anunciou um prejuízo de bilhões de dólares no trimestre passado. A receita caiu em relação ao ano passado. Já a editora do New York Times teve um prejuízo de 58 milhões de dólares em 2008. Agora eles estudam cobrar pelo acesso ao site. Ainda está em estudo se a editora cobrará por tudo ou apenas parte do site. A editora tem uma dívida acima de 1 bilhão de dólares.
Veja mais detalhes aqui.

Cena 4:
525 publicações americanas fecharam em 2008. Detalhes aqui.

Cena 5:
Os jornais americanos, nos últimos meses, vêm estampando matérias dizendo que a recessão econômica tem reduzido a receita publicitária das empresas de mídia. A receita publicitária dos jornais nos EUA caiu 16,4% em 2008, para 37,9 bilhões de dólares, segundo pesquisa do eMarketer. Até 2012, a previsão é de que a queda se aprofunde e a receita dos jornais seja de 28,4 bilhões de dólares.

Cena 6:
A audiência dos sites dos dez principais diários americanos aumentou 16% em dezembro, segundo levantamento do instituto de pesquisa Nielsen. Em 2004, a audiência era de 40 milhões de visitantes, já em 2008 o número passou para 70 milhões. No entanto, a publicidade online nos sites dos diários não vai bem - a estimativa da eMarketer é de que em 2008 houve queda de 0,4%. E a projeção para 2009 é de recuo de 4,7%.

Cena 7:
Na França, o presidente Sarkozy anunciou um pacote salva-vidas para ajudar os jornais. São várias ações, mas uma surpreende: os franceses que completarem 18 anos de idade vão ganhar de presente do governo uma assinatura anual de um jornal à sua escolha.

Cena 8:
Cerca de 60% dos custos fixos dos jornais diários são representados por: papel, impressão e distribuição de exemplares. Ou seja, jornais contribuem fortemente para o aquecimento global.

Cena 9:
Em 2008, vários veículos americanos anunciaram a migração definitiva para o meio online, abandonando a mídia impressa.

Cena 10:
O maior índice de penetração da internet no mundo é na América do Norte. Para quem não conhece, vale a pena passear por esse site: www.internetworldstats.com
Não deixe de entrar nesse link para conhecer as estatísticas do uso da internet pelo mundo.

Agora a versão brasileira...

Cena 1:
Depois de já ter crescido 11,8% em 2007, a circulação de jornais no Brasil voltou a aumentar em 2008. A alta foi de 5%, chegando a 4.351 milhões de exemplares na média diária no ano passado (IVC).

Cena 2:
Num debate na TV no ano passado entitulado “O futuro dos jornais”, os três principais jornais brasileiros dizem que está tudo “uma maravilha”. Ninguém falou em mudança drástica do modelo de negócio. A discussão sobre mídia online decepcionou.

Cena 3:
Pesquisa da PWC apontou que 57% dos consumidores brasileiros aceitariam pagar por uma revista que passasse a ser apenas on-line. Na China o resultado foi 79%. Ambos os números são bem acima dos números dos países desenvolvidos.

Cena 4:
No Brasil a internet explode. Os números diferem dependendo da fonte e da metodologia de cálculo, mas são todos grandiosos. Segundo o Ibope/NetRatings, são 41,5 milhões de internautas no país. Já a DataFolha fala em 64,5 milhões. E crescendo exponencialmente na classe C. Várias pesquisas demonstram que as lan houses passaram a ser, desde 2007, o principal local de acesso à internet no Brasil (pesquisa da Cetic.br). No total, metade dos internautas brasileiros utilizam a rede em locais públicos pagos. Como curiosidade, somente na Rocinha, a maior favela do Rio, existem mais de 100 lan houses.

Cena 5:
Pesquisa da comScore mostra que os jovens estão cada vez menos lendo jornais e... cada vez mais pendurados na internet.

Cena 6:
A venda de computadores no Brasil continua forte, apesar das previsões pessimistas para 2009. No ano passado foram vendidos mais de 10 milhões de computadores no país, entre notebooks e desktops. Hoje no Brasil se vende mais computador do que TV. Um estudo realizado pela Intel, afirma que o Brasil poderá se tornar o terceiro maior mercado mundial de PCs em 2009.

Cena 7:
O crescimento da banda larga no Brasil é evidente, mas ainda estamos longe da maioria dos países desenvolvidos no mundo. Apesar de sermos campeões na venda de computadores, a banda larga no Brasil não é tão acessível devido ao preço e dificuldade de acesso. De qualquer forma, os índices de crescimento são significativos e merecem ser comemorados.

Cena 8:
Orkut, redes sociais e blogs. Os brasileiros internautas adoram tudo isso. Em dezembro de 2008, 11,6 milhões de pessoas acessaram blogs contra 9,5 milhões de brasileiros de dezembro de 2007, um crescimento de 22,1%.

Resumindo...

O modelo de negócio dos jornais baseado em mídia impressa está sendo questionado fortemente nos EUA. A imprensa sempre se sustentou sobre um tripé financeiro, formado pela venda de assinaturas, de exemplares na banca e da publicidade. Como fazer dar certo se as três pernas do tripé vêm diminuindo? Por outro lado, uma parte considerável da população mundial já aceita pagar por conteúdo digital. Junta tudo isso, coloca no liquidificador, e a gente vai sair com algumas conclusões e algumas perguntas de difícil resposta.

A primeira conclusão é que o modelo de negócio dos jornais tem que mudar correndo.
Outra conclusão é que o Brasil parece estar localizado em outro planeta diferente da Terra. Enquanto a circulação de jornais no mundo desenvolvido desce a ladeira, aqui no Brasil ela aumenta. Vivemos aqui um “boom” de informação onde todos que trabalham com informação parecem ganhar dinheiro, inclusive os jornais. O aumento do poder aquisitivo da população alavancou o acesso aos meios de comunicação, sejam eles jornais, TV a cabo, internet ou o papo da esquina. É isso mesmo. É o papo da esquina sim. Com mais dinheiro no bolso, a população sai mais, fala mais, aprende mais, enfim, evolui.

Uma questão sem resposta é a viabilidade dessa tal “informação online paga”. Eu tenho dificuldade de ver isso dar certo apesar de algumas pesquisas apontarem o contrário. A explosão dos blogs e das mídias sociais pode jogar contra ou a favor. A informação livre, disponível e de fácil acesso é o que o povo quer. Bom mesmo foi o que Walter Isaacson, jornalista da Time, escreveu na excelente matéria "How to Save Your Newspaper". Ele disse: "os jovens pagam US$ 0,20 para mandar mensagens de texto pelo celular, mas ninguém quer pagar US$ 0,10 por um jornal na internet". Veja mais aqui.

Agora uma curiosidade. Comparem os dados abaixo:

BRASIL
População: 180 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia (IVC): 4,35 milhões

JAPÃO:
População: 130 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 68,4 milhões

INGLATERRA
População: 50 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 15,5 milhões

EUA
População: 300 milhões de habitantes
Média de jornais vendidos por dia: 49,8 milhões

Comparou o Brasil com os outros países? Sacou? Viu a penetração dos jornais nos países?

Como falei antes, o nosso país vive o “boom” da informação e da internet. Minha percepção é que o Brasil vai pular a era dos jornais e vai direto para a mídia online. Nós não vamos mais chegar no mesmo índice de penetração existente de circulação de jornais dos países desenvolvidos. Esse “novo” povo sedento de informação vai encontrar o que procura na mídia online.

Por fim, como tudo que acontece na Terra do Tio Sam acaba chegando aqui em Terra Brasilis, vamos ficar ligados nos próximos capítulos do filme americano dos jornais. Mudanças drásticas acontecerão em breve sob pena de naufragarem alguns ícones editoriais importantes.

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Top Social Brands

Dias atrás, ao ler a coluna Opinião, de Silvia Bassi, na edição especial da Computerworld, me deparei com uma novidade interessante.

Descobri a existência de uma empresa chamada Vitrue. A empresa é especializada em monitorar a “conversa online” em torno das marcas. Eles criaram um índice, chamado de SMI (Social Media Index), que é uma espécie de nota calculada a partir do número de menções de uma marca ou pessoa em redes sociais, blogs e outras ferramentas online. É muito interessante.

No final de janeiro passado, a empresa publicou o primeiro ranking das “Top Social Brands”. Vale a pena ver, mas considere que o ranking está concentrado nas marcas americanas. Veja o link aqui do ranking.

Não deixe também de navegar pelo site www.vitrue.com

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O clipping de imprensa como ferramenta de comunicação interna

É muito comum as grandes empresas terem um serviço de clipping de imprensa. Antigamente esse clipping vinha numa pasta de papel com as fotocópias das notícias selecionadas dos jornais e revistas. Lembro que, anos atrás, o time executivo da empresa onde eu trabalhava recebia diariamente essas pastas em suas mesas de trabalho. Eram “toneladas” de papel distribuídas por semana. Lembro também que muitos executivos nem abriam as pastas e elas acabavam se acumulando em cima das mesas.

Com o advento da internet e da mídia online, o processo de clipping passou por uma mudança drástica. Hoje o clipping é eletrônico. As notícias selecionadas são agrupadas num formato eletrônico que é distribuído dentro da empresa. A novidade aqui é que o clipping, sendo eletrônico, passou a ser recebido por muito mais gente além do time executivo. Ou seja, um grande número de funcionários passou a ter acesso ao clipping.

Sei de muitas empresas que ainda continuam enviando o clipping somente para o seu time de liderança, mas também conheço empresas que tem o envio aberto do clipping. Basta você, como funcionário, pedir para ser incluído na lista de distribuição e pronto.

Considerando que o clipping pode estar sendo distribuído para centenas ou milhares de funcionários, algumas questões costumam surgir.

A primeira é que os funcionários terão acesso ao que é publicado na imprensa sobre a empresa. Acho isso bom e desejável, especialmente para aqueles que se relacionam com o mundo externo (clientes, parceiros, fornecedores e outros influenciadores). É muito melhor que eles se informem sobre o que sai na mídia dentro da própria empresa do que saberem por alguém externo.

Outro ponto importante é que os funcionários confrontarão as mensagens que recebem da comunicação interna versus o que aparece na mídia. Aí aparecerão coisas interessantes. Não dá prá falar internamente que está tudo as “mil maravilhas” quando a imprensa fala que a empresa não está bem e enfrenta problemas. Ou seja, vai ficar complicado se houver um descasamento evidente entre as mensagens internas e a visão externa.

Uma questão que sempre surge é o que fazer com as notícias ruins. Estou falando daquelas notícias que falam mal, expõe ou questionam algo da empresa. Aquela notícia que incomoda. Conheço muitas empresas que não incluem as notícias ruins em seu clipping, ou seja, só entram as notícias boas e elogiosas. Já fui líder de comunicação em várias empresas, e por várias vezes fui questionado por ter incluído uma notícia ruim da empresa no clipping. Para ser honesto, eu nem gastei tempo pensando para decidir. Sempre foi claro para mim que o clipping é um conjunto de notícias importantes para empresa e para o conhecimento do time executivo e, dentro desse contexto, as notícias ruins são até mais importantes que as boas.

A grande questão não é se a notícia ruim deve ser incluída no clipping. A pergunta é o que fazer com ela? Um dos dilemas que se passa dentro da empresa é se devemos enviar um comunicado interno para os funcionários evidenciando que uma notícia ruim foi publicada. Acho isso ótimo pois mostra transparência e compromisso com os funcionários.

O fato é que enviar a notícia sozinha não é a melhor decisão. A melhor ação seria prover a notícia acompanhada de um comunicado com o posicionamento da empresa em relação ao assunto, especialmente se tal notícia pode impactar a reputação da empresa, seus negócios ou seus relacionamentos institucionais. Ou seja, a empresa posiciona para o funcionário o que está acontecendo, provendo dados ou informações que ajudam aos funcionários a entender a situação. Isso é muito importante pois o funcionário é o principal reverberador e canal de comunicação junto aos clientes, fornecedores e parceiros. Muitas vezes as empresas esquecem disso e não colocam o funcionários como prioridade. É um erro, pois um funcionário não informado acaba virando um especulador, interpretando fatos e concluindo coisas que nem sempre tem conexão com a realidade. E pior, acaba sendo o fomentador de notícias truncadas junto a clientes e parceiros da própria empresa.

Em resumo, ao sair algo negativo na imprensa, trate logo de dar conhecimento interno do que está acontecendo com o devido posicionamento da empresa. Considere sempre que qualquer comunicado interno circulando na empresa pode, potencialmente, sair dos limites da empresa e chegar na imprensa. Portanto, muito cuidado com o que escreve.

O resumo da ópera é que o clipping eletrônico se tornou uma poderosa arma de comunicação interna, que não deve ser negligenciado como um simples relatório sem importância. O clipping informa, orienta, influencia decisões e até afeta o clima interno da empresa.

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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Os riscos de se associar uma marca a uma pessoa - caso Michael Phelps

Lembro muito bem, há quase 15 anos, quando eu comandava a área de comunicação de marketing (publicidade, eventos, patrocínio e promoções) de uma empresa, que eu tive uma discussão fenomenal com o Diretor de Relações Externas (responsável por comunicação interna e externa, inclusive imprensa, e relações governamentais) a respeito de um projeto de patrocínio. Aliás, não foi uma única discussão, foram várias conversas duras e desgastantes.

Eu estava começando a minha vida em marketing e comunicação, era uma espécie de aprendiz de feiticeiro, e de repente estava diante de uma oportunidade maravilhosa de patrocínio. O retorno sobre o investimento mostrava-se espetacular e a oportunidade imperdível. A questão é que o projeto de patrocínio estava ligado a uma personalidade nacional, uma pessoa admirada por todos, com uma reputação inabalável e querida por toda a mídia.

Associar o nome da empresa a essa personalidade parecia ser maravilhoso, pois essa pessoa agregaria atributos importantes para a marca da empresa. Foi um projeto que eu vinha desenvolvendo arduamente, com características inovadoras e inexistente no mercado.

Como aprendiz da área, obviamente que eu cometi equívocos e erros que poderiam ter sido evitados. Um deles é que eu deixei para conversar com o Diretor de Relações Externas muito tarde, quando cheguei nele o desenho do projeto já estava num estágio muito adiantado.

Lembro muito bem da conversa inicial. Ele foi radicalmente contra o projeto desde o primeiro minuto. Ele não tinha nada contra a pessoa, aliás, ele afirmou várias vezes ser um admirador voraz dessa personalidade, mas achava um risco muito grande associar a marca da empresa a uma personalidade. Ou seja, seu argumento era conceitual e não dizia respeito ao nome envolvido. Ele não recomendava seguirmos em frente com um projeto daquele tipo, independentemente da personalidade ou do nome em questão.

Seu receio se baseava em dois simples pontos:
- que o nome da pessoa se sobrepujasse a marca da empresa;
- que algum problema pessoal daquela personalidade, desconhecido e/ou imprevisível, pudesse impactar os atributos da marca, podendo até causar uma crise, o que colocaria a credibilidade da marca da empresa em risco.

Ele dizia que, por mais inabalável que fosse a reputação de tal pessoa, fatos imprevistos e situações impensadas poderiam reverter o cenário e colocar em risco a marca da empresa. Acho que ouvi isso mais de "mil vezes".

O projeto proposto era inicialmente de 12 meses. Isso significava dizer que, ao longo do tempo, a associação da marca da empresa com a personalidade iria se fortalecer, a ponto dos atributos dos dois lados se misturarem. O executivo tinha muito receio dos riscos envolvidos, apesar de todas as evidências mostrarem que os riscos eram mínimos e controláveis. Eu, na minha ingenuidade e inexperiência, achava-o excessivamente conservador e retrógrado. Não conseguia ver riscos sérios. Eu queria a todo custo colocar o tal projeto inovador no ar, pois tinha certeza que ele traria excelentes resultados para a empresa.

Enfim, foram várias discussões, muitas análises foram feitas até a tomada de decisão.

Conto toda essa história por conta da notícia que ocupa os jornais nos últimos dias. Michael Phelps, o super-campeão olímpico, foi fotografado fumando maconha numa festa universitária no final do ano passado. A foto foi publicada no domingo passado no jornal britânico “News of the world”.

Michael Phelps é sinônimo de sucesso, saúde e código de conduta. Ele é inspiração e herói de uma nação inteira. Seu nome tem sido venerado como atleta exemplar e modelo a ser seguido pelos jovens. Phelps virou ícone mundial e aspiração de muitas empresas em seus planos de marketing. É garoto-propaganda de empresas como Kellogg’s (a do sucrilhos), Omega (a dos relógios) e a Speedo (a fabricante de roupas de natação e outros produtos esportivos). Sua imagem está intimamente ligada a várias entidades importantes e associações como a USA Swimming. Sua imagem é tão forte e poderosa, que as caixas de sucrilhos Kellogg’s carregam a imagem de seu rosto estampada em grande estilo.

Enfim, seu nome era sinônimo de sucesso e reputação inabalável até semana passada. Era difícil imaginar que algo pudesse abalar esse fenômeno. Afinal, o que poderia acontecer a um campeão olímpico como ele, de 23 anos, com toda uma carreira ainda pela frente? O fato é que o improvável, o inconcebível e o inacreditável aconteceu. O sinônimo de saúde foi pego fumando uma “maconhinha” (ou algo parecido).

Phelps já está sofrendo as consequências dessa pequena ação impensada. A USA Swimming já publicou um comunicado dizendo que Phelps decepcionou o país. Os contratos de propaganda estão sendo revistos. A Kellogg’s já disse que não vai renovar o contrato com o atleta. E por aí vai. Aliás, vale dizer que a Kellogg’s está em maus lençóis, pois como eu já disse antes, seus sucrilhos vendidos nos supermercados americanos carregam a imagem destacada de seu garoto propaganda. Como resolver e tratar isso? O pessoal de marketing e comunicação da Kellogg’s deve estar pensando um bocado. Aliás, se você estivesse no lugar deles, o que você faria? Boa pergunta, né?

Aqui no Brasil temos vários exemplos de rostos e nomes que ficaram intimamente conectados à marcas de empresa. Para citar um exemplo, lembro da Embratel que durante anos teve a Ana Paula Arósio liderando suas iniciativas de marketing.

O resumo disso tudo é que empresas de marcas fortes têm que pensar muuuuuito a respeito dessa estratégia de associar sua marca a uma personalidade, por mais "segura" e inabalável que ela seja. O exemplo de Phelps é um dos melhores exemplos que vi nos últimos tempos.

Valer ler esse post de Mario Persona, pois ele aborda bem esse tema de associação de pessoas a uma empresa.

E para você, que estava curioso com a minha história...

O projeto era o patrocínio do Jô Soares, quando a IBM colocou na mesa do Jô, no seu programa Jô Onze e Meia, um notebook onde ele acessava a internet ao vivo. Foi a primeira vez que isso foi feito na TV em todo mundo. Foram quase dois anos contínuos no ar, de segunda a sexta, com grande sucesso e impacto na mídia.

O Diretor da IBM era Roberto Castro Neves, uma das maiores autoridades de comunicação corporativa do país, hoje consultor e ombudsman da Aberje, além de autor de vários livros de comunicação.

É isso mesmo que você está pensando. O projeto foi adiante e gerou grande retorno para a IBM, que naquela época buscava popularizar sua marca pois ainda era grande fabricante de PCs. Os nomes IBM e Jô Soares ficaram intimamente conectados durante esse período. Aliás, foi muito divertido trabalhar junto com Jô e sua equipe - um pessoal formidável, competente e muito profissional, comandado por um gênio da comunicação.

Prá fechar o post, acho muito improvável que eu faça um projeto como esse novamente. O caso Phelps explica tudo, né?

Vai aqui um abraço saudoso ao amigo e mestre Roberto Castro Neves. Um dia escrevo sobre ele.

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Marcas Chinesas - Parece mas não é

Já escrevi nesse blog sobre as marcas mais valiosas do mundo, quantas elas valem, etc e tal. Ontem, ao ler a revista Exame, o meu queixo caiu.

Eu já havia ouvido falar a respeito do enorme número de empresas chinesas que fazem pirataria de grandes marcas consagradas do mundo, muitas delas acabam chegando aqui em terras tupiniquins. Eu nem estou falando dos produtos que a gente vê nos camelôs da vida, mas sim de roupas e cosméticos mais sofisticados. Minha ingenuidade me fazia imaginar que elas faziam isso de forma um pouco escondida, sem exposição e por vias “paralelas”.

Ao ler a última Exame me deparei com marcas piratas de cadeia de fast food, cafés, lojas de roupas, etc. Ou seja, tudo isso acontece abertamente, sem constrangimento ou intimidação. É escancarado mesmo. As lojas povoam os shoppings na China.

Prá registrar, eu mostro abaixo alguns exemplos de cópias chinesas de marcas famosas que qualquer um encontra facilmente nas principais ruas e shoppings de Xangai. É incrível, mas é verdade. Clica na foto para ver melhor.

Você acorda de manhã, veste uma camiseta Nire e um tênis Adadis, toma um café no Bucksstar, depois faz um lanche no McDnoald’s, vê a vitrine e sonha com um terno Georgi Amoni, chega em casa e ouve um som no seu Panosaonic, assiste a novela na sua TV Sonia e finalmente janta uma pizza no Pizza Huh.

Melhor ainda é visitar alguns sites deles. O mundo globalizado tem dessas coisas...

Faz uma visitinha no www.georgiamoni.com












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