sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Papo com Luis Nassif

Ontem eu tive a satisfação de almoçar com Luis Nassif. Ele tem um dos principais blogs do país.
Polêmico, direto e questionador, assim é Luis Nassif, características que alimentam muito bem sua popularidade. Conversamos sobre tudo, foi um papo bom e aberto, aprendi a beça. Uma das coisas que ele falou várias vezes é a certeza de que fazemos no Brasil um jornalismo da idade da pedra e é isso que vou explorar aqui.

Nassif foi um dos jornalistas pioneiros que se aventuraram na mídia online quando ela ainda estava engatinhando. Foi também um dos primeiros a lançar um blog. Ele é enfático ao dizer que o conhecimento se constrói em colaboração e que o jornalismo tem que mudar para esse novo mundo, deixando de ser uma comunicação em mão única. Esse conceito é verdadeiro, mas a “real life” é outra. Já ouvi pessoas da mídia dizendo que a explosão dos blogs está transformando a web numa espécie de lixo, que as informações não são confiáveis e que existe muita especulação. Isso é verdade, acho que ninguém contesta. Mas será que podemos atestar que as informações publicadas nos meios jornalísticos são 100% confiáveis? O fato é que os jornais e as revistas têm que vender, portanto esses veículos desenvolvem conteúdo que necessariamente carregam algo para gerar impacto no leitor. Isso é ou não é mexer com a informação?

É ilusão exigir “qualidade” dos blogs. Aliás, esse é um conceito inerente ao modelo do blog. Como disse o Nassif: “-- a blogosfera é um universo anárquico onde cabe de tudo. É uma nova forma de organização da opinião, na qual os próprios leitores buscarão os blogs que tomarão como referência. E há blogs para todos os gostos, para catarse, para informação e para análise”.

Conceitualmente os jornais e revistas deveriam ser veículos de comunicação imparciais, conectados aos fatos, podendo, eventualmente, divergir em suas análises. Já na blogosfesra a figura central é a pessoa física do blogueiro. Ou seja, o blog é parcial mesmo, afinal é a opinião ou visão de um ser humano a respeito de alguma coisa. Aí volta o Nassif: “--Nos jornais há (ou havia) diversidade entre os colunistas. Mas cada qual era parte do todo, principalmente porque jornal é estático, com as colunas presas aos limites do papel, e a composição do quadro de colunistas é definida pela direção dentro de uma estratégia mercadológica. Quando a mídia maciçamente recorreu à “jurisprudência” jornalística, nos últimos anos, a diversidade acabou e muitos grupos de leitores ficaram órfãos. Na blogosfera o jogo é livre. O leitor montar seu painel de blogs e percorre todos eles confrontando opiniões e informações”.

O ponto de Nassif é que o jornalismo de hoje não permite a diversidade e isso está matando os jornais e revistas. Enfim, o conceito dele é que o conhecimento se constrói de posições contraditórias. Que não existe verdade absoluta. Que o conhecimento está espalhado e muitas vezes não está nas fontes tradicionais. Que o conhecimento verdadeiro é construído a partir de opiniões e visões diferentes. A capacidade de juntar essas diferentes visões é que vai permitir a geração de um conhecimento duradouro e sustentado.
Ele comentou que os principais colaboradores de seu blog são pessoas desconhecidas que trazem conhecimento real e novo aos fatos, que agregam diversidade e que muitas vezes têm divergências profundas a respeito de algum tema. E que isso tudo acontece muito rapidamente. Enquanto um jornal tradicional levaria um dia inteiro para apurar os fatos através de um jornalista (que muitas vezes nem conhece bem o assunto) para publicar no dia seguinte, o blog recebe dezenas ou centenas de informações de fontes e visões diferentes, fazendo o assunto ser visto e analisado por prismas diversos. Essa diversidade certamente é muito mais rica do que uma matéria escrita por um jornalista, que tem seu espaço limitado e que ainda passará pelo crivo, corte e ajuste do editor.

Noutro dia eu conversei com Jean Paul Jacob que também tem um ponto de vista firme em relação a isso. Ele costuma dizer que o futuro das revistas não é "continuar a ser tinta sobre um árvore morta (papel), mas sim valorizar o conteúdo e distribuí-lo em várias embalagens, sobretudo eletrônicas/digitais. Ele diz ser crente de carteirinha que no futuro veremos parte desse conteúdo como resultado de colaborações entre autores representando uma diversidade de áreas de conhecimento, chegando até o ponto extremo em que uma "revista” terá a encarnação (eletrônica) da "sabedoria das massas".

Enfim, Jean Paul e Nassif tem visões muito parecidas do futuro do jornalismo.

Existe um artigo muito interessante falando sobre o futuro dos jornais. Vale ler. Ele fala como é o jornal de hoje e como será o jornal do futuro. Eis aqui o link.

Nassif falou tudo isso mirando o jornalismo brasileiro, dizendo que esse novo conceito de comunicação deveria ser a aspiração das empresas brasileiras de mídia. Ele falava e eu pensava na comunicação interna e na geração de conhecimento dentro das empresas, que sofre do mesmo problema e desafio. É incrível a similaridade de desafios e visão entre a comunicação externa (jornalismo) e comunicação interna. São essas coisas que reforçam o conceito de que a fronteira entre comunicação externa e comunicação interna vem desaparecendo.

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O ranking das marcas 2

Tenho que confessar que eu me senti um pouco culpado com o post de ontem. Do jeito que escrevi dá a entender que o ranking publicado pela Interbrand é o principal ranking de marcas do mundo. Talvez até seja, mas seria injusto não mencionar que existem outras entidades de consultoria importantes e que publicam rankings também muito respeitados no planeta. Eu acho que a Interbrand é a consultoria que vem conseguindo fazer o melhor marketing (diga-se barulho) de seu estudo global, daí o interesse da mídia em geral.
Uma outra empresa de consultoria, muito respeitada e conhecida, é a Millward Brown. Ela surgiu quase no mesmo ano da fundação da Interbrand, na verdade um ano antes, em 1973. Também se proliferou pelo mundo, com escritórios e representações em mais de 40 países, e diz que presta serviços de consultoria de marcas para 70 das principais 100 marcas globais.
Em abril desse ano, a Millward Brown (daqui pra frente chamada de MB para facilitar a escrita) publicou seu ranking global que cravou a marca Google em primeiro lugar, valendo o incrível valor de U$ 86bi.
Depois do Google, em ordem de classificação, vem a GE, Microsoft, Coca-Cola, China Mobile, IBM, Apple, McDonalds, Nokia e Marlboro.
A coisa é para enlouquecer mesmo, pois o ranking da MB tem algumas diferenças enormes em relação ao ranking da Interbrand. Por exemplo, a Apple aparece forte na MB (em 7º. lugar) enquanto que na Interbrand cai para o 24º lugar. Enfim, vale a pena olhar as duas pesquisas para concluir que esse negócio de ranking não é um negócio muito matemático não.
Uma coisa é certa e fica evidente nas pesquisas. A marca Google veio prá ficar. Difícil de dizer se ela hoje é realmente a 1ª do ranking mundial, segundo MB, ou a 10ª, segundo Interbrand. Isso não importa. O fato é que a marca Google carrega um toque de Midas. Tudo que leva a marca Google gera uma sensação de jovialidade, inovação e qualidade. Imaginem se o Google liberasse sua marca para aplicação em produtos como eletrônicos. Acho que seria um estouro.
Por fim, o relatório da Millward Brown fala sobre algumas marcas de países em desenvolvimento que vem emergindo globalmente. E cita explicitamente, no caso de Brasil, a Brahma, Petrobrás e Bradesco... e, surpreendentemente, deixa de fora a Vale.

domingo, 21 de setembro de 2008

O ranking das marcas

Dias atrás a Interbrand divulgou o ranking das 100 marcas mais valiosas do mundo. Essa é a oitava edição anual do ranking e a Coca-Cola aparece, mais uma vez, como a marca mais valiosa do mundo. Veja aqui o ranking 2008.


A Interbrand é uma empresa que surgiu em 1974 e se transformou numa entidade conceituada internacionalmente. Basicamente eles formam uma empresa de consultoria que estuda marcas, prestando serviço para muitas empresas globais, estudando suas marcas como patrimônio e diferencial de negócio. A coisa deu tão certo que hoje a Interbrand tem quase 40 escritórios espalhados pelo mundo, com muitas parcerias e associações em vários continentes. Eles se tornaram conhecidos a partir de 2001 quando criaram esse ranking global de valorização das marcas.

O grande destaque da edição 2008 foi a IBM, que roubou o segundo lugar da Microsoft. A marca Coca-Cola, no topo do ranking, é avaliada em US$ 66,667 bilhões. A IBM, em segundo lugar, vale US$ 59,031 bilhões e a Microsoft, que figurava na segunda posição no ano passado, passou à terceira colocação valendo US$ 59,007 bilhões.
Alejandro Pinedo, diretor-geral da Interbrand no Brasil, disse: “A diferença é sutil, mas mostra que a IBM acertou ao sair do negócio de PCs e se posicionar como uma empresa de soluções em informática. Ao mesmo tempo, a Microsoft passou por alguns contratempos, como a aposentadoria de Gates e os problemas com o Windows Vista, que influenciaram no valor de sua marca”.

Uma análise rápida da lista sugere que as marcas ligadas às áreas de tecnologia e internet vêm conquistando posições. O maior exemplo é o Google, décima posição no ranking, cuja marca hoje está avaliada em US$ 25,590 bilhões. Em três anos, a marca subiu dez posições, com crescimento de 107%. Além do Google, cujo valor da marca cresceu 43% nessa edição do ranking, as marcas que mais se valorizaram foram Apple (+24%) e Amazon.com (+19%).

Outra análise interessante é constatar a queda de grupos financeiros como Citi (-14%), Morgan Stanley (-16%) e Merrill Lynch (-21%). Provavelmente esse resultado é reflexo da atual crise do sistema financeiro americano.

Uma das coisas que mais gosto de fazer é voltar no tempo e ver o ranking de 2001, ano em que a Interbrand publicou o seu primeiro ranking global. Você pode ver aqui o ranking 2001.

Um fato chama atenção. Ao compararmos as 3 primeiras posições de 2008 versus 2001, verificamos que os valores da Coca-Cola e Microsoft caíram, ou seja, elas valem menos hoje do que há 7 anos atrás. Já a marca IBM aumentou de valor, quase 15%, mostrando que a estratégia de marca da IBM vem dando certo. Tal conquista fica mais relevante pelo fato da IBM não possuir mais as linhas de produtos para consumidores pessoa física como PCs e impressoras.
A Toyota subiu da 14ª para a 7ª Posição. Já a marca AT&T, que ocupava a 10ª posição no ranking de 2001, hoje nem aparece mais. A Kodak também desapareceu do ranking 2008 das 100 primeiras, evidenciando que os problemas de negócio da empresa impactaram seriamente a marca. Sempre vale a pena compararmos as duas listas para encontrarmos flagrantes interessantes, como marcas que não existem mais em nossas mentes e algumas outras que ganharam espaço recentemente.
O mais impressionante é a marca Google que em 2001 nem figurava entre as 100 primeiras do ranking. Aliás, a empresa foi fundada em 1998. No dia 7 de setembro ela fez 10 aninhos de idade. Enfim, qual é o segredo de uma empresa tão jovem que em poucos anos conquistou a posição de 10ª marca mais valiosa do mundo, desbancando marcas como Sony, Apple, Nike e Gillette?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Hype Cycles

Eu não sou muito fã das consultorias. Muitas vezes tenho a impressão que elas reempacotam determinadas coisas que já existem e as “vendem” como se fossem novas. Posso até estar sendo injusto, poderia minimizar dizendo que sou muito criterioso com tais materiais.
Mas tenho que reconhecer que muitas vezes surgem coisas brilhantes que perduram através dos tempos. Um dos estudos, apresentados pelo Gartner há mais de 10 anos atrás, é realmente interessante e continua super-atual. Falo dos HYPE CYCLES. Já ouviu falar? Talvez o nome seja estranho, mas o conceito é conhecido.
Tentando simplificar o conceito, um Hype Cycle é a forma gráfica de representar a maturidade e a adoção de determinadas tecnologias. O termo foi criado pelo Gartner e não consegui encontrar uma tradução para o português. Aqui no Brasil o pessoal costuma chamar de HYPE CYCLES mesmo.
Basicamente o hype cycle caracteriza o exagerado entusiasmo inicial e subseqüente desapontamento que tipicamente acontece na introdução de novas tecnologias. O gráfico também pretende mostrar o que ocorre depois desse ciclo inicial, quando a tecnologia cai na real, passa a oferecer benefícios práticos e começa a ser efetivamente adotada pela sociedade.

Veja aqui o link com a explicação dada pelo próprio Gartner. Mas eu poderia resumir da seguinte forma...

Basicamente, o hype cycle compreende 5 fases:

"Technology Trigger" — é a primeira fase do hype cycle, quando a nova tecnologia gera grande interesse da mídia e da sociedade. Ou seja, é a fase do “só se fala nisso” ou “isso vai mudar o mundo”.

"Peak of Inflated Expectations" — na fase seguinte, com a mídia em cima bombando, é gerado um entusiasmo exagerado, bem carregado de expectativas não realistas. É uma mistura de aplicações bem sucedidas e decepções. É a fase do “não é bem assim” ou “é muito legal, mas não é aquilo tudo que tem sido dito”.

"Trough of Disillusionment" — Essa fase é inevitável. Ela ocorre porque a nova tecnologia não consegue atender toda a expectativa criada. Muitas vezes a imprensa deixa de falar sobre aquela tecnologia pois ela fica “fora de moda”. É a fase do “até que parecia legal”.

"Slope of Enlightenment" — Nessa fase, apesar do desinteresse da imprensa, a nova tecnologia continua a ser experimentada e até adotada em alguns negócios. É a fase “eu acho que está dando certo prá isso”.

"Plateau of Productivity" — A tecnologia alcança o “platô de produtividade”. Ou seja, ela passa a ser aceita de forma abrangente, se torna mais estável e já se vislumbra uma geração seguinte mais evoluída da tecnologia. A curva final do platô pode variar em função da aplicação da tecnologia, que pode ser abrangente ou específica para algum segmento de mercado.

O conceito de hype cycle foi muito bem recebido pelo mercado e hoje ele é aplicado em muitas situações. Por exemplo, no IBM Fórum de 10/09/2008, Tadeu Viana, Diretor Técnico da Siemens, fez uma excelente palestra onde apresentou o conceito de hype cycle aplicado à adoção de novas tecnologias nas empresas.
Tadeu disse que o processo nas empresas segue exatamente o comportamento demonstrado pela hype cycle. E esse padrão ocorre porque a adoção de uma nova tecnologia é diretamente proporcional ao interesse dos funcionários por aquela tecnologia, não é algo top-down. Parece lógico, né? E é mesmo. Mas o que me chamou a atenção foi quando ele apresentou o gráfico com duas curvas. A primeira curva mostrava o comportamento tradicional dos funcionários. Já a segunda curva que estava desenhada muito mais à esquerda do que a primeira, representava o hype cycle da nova geração, que no meu post anterior foram chamados de nativos digitais ou jovens convergentes. Ou seja, a tal geração Y. Essa segunda curva mostra que a nova geração adota uma nova tecnologia muito mais rapidamente. Todo o processo do hype cycle fica acelerado. Conclusão: a curva para essa nova geração é muito mais arrojada do que o normal.
A conclusão reforça todos os conceitos que já tenho comentado em meus posts.

E para fechar o post, eu lembro a situação da IBM Brasil onde 50% da população têm menos de 30 anos de idade. Ou seja, temos milhares de representantes da geração Y dentro da companhia. Dá pra sentir a segunda curva nos atropelando. As empresas têm um desafio enorme de trabalhar e desenvolver essa nova geração que ocupa espaço dentro das empresas. Para eles não existe tempo a perder.

sábado, 13 de setembro de 2008

Nativos Digitais

Nos dias 9 e 10/09/2008 rolou o IBM Fórum no WTC Hotel em Sampa.
O evento foi espetacular e teve a presença de mais de 1.100 clientes e 300 parceiros de negócios.
Um dos grandes momentos foi a apresentação de Jean Paul Jacob, pesquisador emérito que trabalha no Centro de Pesquisas da IBM em Almaden, Califórnia.
Na sua apresentação, chamada “A invasão dos mundos digitais”, ele falou muito sobre a nova geração. Ele chamou os jovens de hoje de “NATIVOS DIGITAIS”, pois são fanáticos em relacionamento, já nasceram no mundo virtual e no meio de computadores. Para ilustrar, JP disse que para a geração mais velha, onde eu me incluo, vizinhos são aqueles entes físicos que moram ao lado de sua casa. Já para os nativos digitais, vizinhos são aquelas pessoas que têm interesse comum e que estão sempre se falando no mundo virtual. Enfim, o aspecto físico passa a ser irrelevante.
Depois do JP, veio uma outra excelente apresentação de Tadeu Viana, Diretor Técnico da Siemens. Ela também falou sobre essa nova geração, só que chamou-a de “Jovens Convergentes”. Ele colocou pimenta na discussão desafiando a platéia com a seguinte pergunta: “-- O ambiente das empresas hoje é atrativo e inovador?” Na verdade, a pergunta dele poderia ser: “-- Será que as empresas estão sabendo trabalhar, desenvolver e tirar todo o potencial dessa nova geração?” Está claro que não. E apresentou um quadro muito interessante onde descreve as características dos “jovens convergentes”:
- Manuseiam vários assuntos ao mesmo tempo (exemplo: sites de relacionamento);
- Tomam decisões extremamente rápidas (exemplo: jogos online);
- São avessos a soluções proprietárias (exemplo: internet);
- Conectam-se a qualquer hora e em qualquer lugar (exemplo: internet);
- Dão importância à informação em si, e não ao meio pelo qual ele transita;
- São autodidatas, buscam interfaces intuitivas de uso.

Todos nós sabemos disso, mas quando ele coloca todas essas características juntas na mesma bandeja, fica claro que estamos diante de uma grande transformação da sociedade e do mundo corporativo. Na mesma hora pensei na IBM Brasil, onde 50% da população têm menos de 30 anos de idade.
Enfim, saí das palestras com duas sensações. A primeira, mais contundente e dura, talvez rigorosa demais, é que fazemos comunicação da idade da pedra nas empresas, inclusive na IBM. A segunda, mais esperançosa e motivadora, é que saí cheio de idéias.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Te conheço, Washington?

Em 2007, nós vivemos um fato muito interessante na empresa. Um rapaz, chamado Washington, mudou o seu número de celular e resolveu enviar um e-mail informando o novo número para os amigos. Nada mais natural, pois todos nós fazemos isso.

O grande problema, e até hoje não entendi muito bem o motivo, é que em vez dele usar uma lista dos seus amigos, ele pegou uma lista de distribuição com todos os nomes da empresa e deu um “send all”. Prá que se dar o trabalho de montar uma lista de amigos? É mais prático mandar para todos os funcionários da empresa. E mandou brasa.

Ele usou uma lista de distribuição com mais de 10 mil nomes e ids. Até hoje nós não sabemos como ele conseguiu essa lista, que deveria ser protegida e ter acesso proibido, mas isso é outra história.

O fato é que Washington enviou o tal “e-mail informativo” para os tais 10 mil nomes.

Em questões de segundos, vários deles começaram a responder dando “reply all” dizendo algo do tipo: “Não te conheço Washington”, “Parabéns Washington”, “Não faça mais isso Washington”, “Quem é você Washington”, “Você é maluco, Washington?”, "Foi bom conhecê-lo, Washington", etc.

Foram centenas de e-mails sendo enviados. Eu recebi vários deles. Eram todos respondendo para todos. Aquele primeiro e-mail singelo deu origem à uma corrente sem controle, algo viral e intenso, num curto espaço de tempo. A rede da empresa rapidamente apresentou problemas de performance, chegou a travar várias vezes. Tudo aquilo porque o Washington resolver comunicar a mudança de celular de uma maneira mais “abrangente”.

E para tornar a história mais pitoresca. Em pouco mais de 1 hora surgiu uma comunidade no Orkut chamada: “EU TENHO O CEL DO WASHINGTON!!”, com vários participantes.

O email do Washington foi enviado às 14:37hs do dia 16/03/07. A comunidade no Orkut foi criada às 15:57hs do mesmo dia e ainda está lá, disponível para ser visitada. Eis o link:
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=29237591

Essa história, apesar de divertida, causou transtorno e muita discussão na companhia. O caso tem várias facetas e dá para tirarmos muitos aprendizados. Uma das evidências é que o “povo” quer mesmo é se relacionar. Bastou surgir uma oportunidade instantânea, informal, engraçada, para que os funcionários começassem a reagir e criar uma corrente. Ou melhor, uma rede de mensagens relacionadas ao fato do rapaz ter mudado o celular.

Enfim, o caminho da comunicação interna nas grandes empresas necessariamente passa pelas redes de relacionamento e fóruns de troca de experiências e mensagens. As empresas têm que criar e viabilizar essas redes sociais internas. É uma oportunidade de ouro para conhecer mais as ansiedades, os desafios e as aspirações dos funcionários. Essa é a empresa do futuro, que fala, se relaciona e libera os potenciais e sonhos dos funcionários. Ainda temos muito que caminhar em comunicação interna, desenvolvimento e clima dentro do mundo corporativo.

Digite seu email


Um serviço do FeedBurner

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A câmera e o coração na mão

Em agosto aplicamos mais um media training na empresa. Eu gosto muito de media training (daqui prá frente chamarei carinhosamente de MT), é a chance de compartilharmos conhecimento e fazermos as pessoas treinarem naquilo que elas têm poucas oportunidades para treinar, que é como se relacionar com a imprensa.
Já aplicamos 5 media trainings nesse ano e lembro que a preparação desse projeto tomou muito tempo nosso... e muita discussão. Ontem, ao ler uma revista, me deparei com um artigo que tocava exatamente no ponto mais polêmico das nossas discussões de preparação do MT: o uso da câmera de TV entrando na sala repentinamente para pegar os treinandos de surpresa. Essa imagem de uma câmera entrando na sala, com um jornalista ansioso, a luz em cima e com perguntas complicadas sempre assusta qualquer um. É a típica situação extrema de crise. Parece coisa de Jornal Nacional... e é mesmo.
A autora do artigo abordou muito bem os conceitos do MT, com os quais eu concordo em maioria, mas fez um ponto que merece reflexão: “o mundo evoluiu, globalizou-se, passou a ser mais virtual e nós, profissionais de Relações Públicas, agências e assessorias de imprensa, continuamos acreditando que simular uma crise frente às câmeras, em um exercício de MT, ainda está valendo”. Ela alega de forma pertinente, que no mundo atual, dificilmente algum executivo vai levar uma câmera de TV na cara, de supetão, sem estar preparado. Isso é verdade e todos nós concordamos. Ela também diz que os MTs propostos dão importância exagerada em gerência de crise. A pergunta dela é: “Mas que crise é essa?”. Ela diz que os MTs precisam ser repensados e deveriam diminuir o foco excessivo em crise.
Agora vem a minha pergunta: - Mas o que ela quer? Que o treinamento de crise seja dado na... crise?
Eu entendo os argumentos apresentados e até concordo no conceito. Mas, na prática, eu acho que o treinamento com a câmera na cara e pressão no treinando funciona melhor. O objetivo de um MT é apresentar conceitos e oferecer treinamento prático, portanto, nesse contexto, exercícios mais contundentes e extremados vão permitir que o treinando absorva melhor as conseqüências que acontecem em situações de surpresa, ou quando não existe preparação prévia adequada. Viver isso na prática é a melhor forma de qualquer executivo aprender e captar as orientações. É óbvio que esse treinamento com câmera tem que ser feito com critério, sabendo dosar as ações frente às personalidades e limitação de cada treinando. O pior dos mundos seria expor negativamente os treinandos ou constrangê-los. Mas desafiá-los, e colocá-los frente a uma situação extrema, faz muito bem no treinamento. Enfim, treinamento é para isso. O pior é deixar a situação crítica para uma crise real.
Por fim, concordo inteiramente com a autora quando diz que os MTs precisam ser repensados, que eles precisam ser mais personalizados e adequados para cada indivíduo. Aí ela acertou no alvo. Eu acho que esse é o maior desafio de qualquer MT: treinamento em grupo com foco no indivíduo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Prezado funcionário

Trabalhei numa empresa onde ocorreu um fato curioso.

Toda a comunicação interna era muito centralizada na comunicação do presidente. O líder tinha uma imagem muito forte e ele era muito assertivo. O presidente se dirigia aos funcionários, via cartas e emails, sempre de forma muito direta e pragmática, até mesmo um pouco dura. Ele não era um presidente carismático, nem popular, uma de suas características eram seus textos curtos e impositivos. Ele não falava muito. Sempre começava o texto com “Prezado funcionário”.

Em determinado momento esse presidente se aposentou. A empresa, que tinha o objetivo de fazer uma grande transformação em seus negócios e cultura, decidiu contratar um presidente vindo do mercado.

O executivo contratado era muito mais jovem que o anterior, mais de 20 anos de diferença de idade. O novo líder era falante, gostava de conversar com os funcionários e muito informal. Ele tinha a capacidade de inspirar as pessoas e exalava carisma por todos os lados.

Tudo ia bem, mas a grande falha de todo o processo foi que a comunicação do novo presidente passou pela velha máquina de comunicação interna da empresa. Máquina que muitas vezes eu chamo de “máquina de moer carne”, porque na saída o resultado é sempre o mesmo, independentemente do que entra nela.

O problema ficou flagrante logo no início. As primeiras cartas do novo presidente continuaram a usar o velho chavão do “prezado funcionário”, expressão que ele nunca usava no dia a dia. O texto e estilo das cartas eram quase nada diferentes do presidente anterior, continuavam duras, secas e impositivas. Ou seja, a máquina de comunicação interna estava pasteurizando a comunicação, tirando o brilho dos olhos do novo presidente e colocando-o atrás do muro corporativo.

Essa experiência foi muito ruim e impactou seriamente a liderança do novo executivo. Graças a Deus, em poucos meses, uma turma de iluminados descobriu e corrigiu o problema.

Em resumo, não podemos deixar a comunicação interna de uma empresa virar uma máquina de moer carne (onde a saída é igual independente do que entra) ou uma padaria de pãozinho quente (onde o negócio é quantidade, e todo dia é a mesma coisa). A comunicação interna tem que transmitir o estado de espírito da liderança e criar gatilhos que evidenciem a personalidade do executivo. Tem que usar as expressões que o executivo usa no dia a dia. Tem que aproximar os líderes das tropas, criar um estado de proximidade e até intimidade. Manter a atenção nesses pontos permitirá que a comunicação interna execute seu papel, gerando credibilidade e tornando-se uma ferramenta eficaz dentro da empresa.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A comunicação corporativa é uma lousa

Hoje ouvi uma matéria interessante na Band News FM do Rio. Basicamente, a matéria comentava que a escola atual ainda é a mesma escola de 50 anos atrás, ou seja, o professor na frente, uma lousa (em Sampa se chama lousa o que chamamos no Rio de quadro negro, mesmo que ele seja branco) e os alunos sentados escutando. E dá-lhe matéria, e dá-lhe decoreba. Uma fórmula antiquada e ineficaz. O velho conceito do professor “cuspindo” informações e os alunos anotando, para depois serem cobrados numa prova individual, onde a decoreba muitas vezes é mais importante que a capacidade interpretativa e analítica.
Enfim, a matéria me fez pensar o quanto que a educação prescrita nas escolas está distante da realidade atual da sociedade e da tecnologia.

Em um pulo de raciocínio, saí da educação e fui para a comunicação corporativa. E, nesse pulo, eu caí da cadeira. A história acima casa direitinho com o que ainda fazemos nas empresas. A maioria das empresas ainda usam ferramentas de comunicação unidirecionais, com nenhuma ou limitada capacidade de compartilhamento de informação e conhecimento. A empresa ainda puxa para si quase toda a responsabilidade de comunicar e desenvolver. É ou não é um caso parecido com a história do professor, lousa e alunos sentados escutando? Fiquei imaginando todos os empregados de uma empresa, sentados, esperando a empresa escrever na lousa o que deve ser difundido e recebido pelos funcionários.
Incrível, mas existem muitos pontos similares.

Vivemos a era da colaboração e opinião. As sociedades mais desenvolvidas são aquelas abertas, onde a democracia do conhecimento e da informação é o pilar mestre dessas mesmas sociedades. Acho que todos concordamos com isso, né? Então porque não aplicamos isso de forma mais contundente nas escolas e nas empresas? Bem, chegaremos lá, com certeza. Quem sair na frente, com certeza, vai colher seus frutos primeiro.

Digite seu email

Um serviço do FeedBurner

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...